

Nos dias 25 de janeiro celebramos a Revolta dos Malês, insurreição de pessoas africanas estudiosas escravizadas pelo colonialismo racista, escravocrata, branco eurocentrado. O movimento ocorrido no ano de 1835 em Salvador tinha como objetivo central abolir o regime racista escravocrata. Evocamos esta data e luta tão importante na história do Brasil, pois é inspiração e alimento para continuarmos a luta antirracista. O crime de racismo e injúria racial é um crime premeditado e continuamente praticado contra a população negra ao redor do mundo, e no Brasil, e especificamente em Rondonópolis não é diferente. No dia 26 de janeiro, um dia após rememorarmos a revolta dos Malês, recebemos na sala do NEABI/UFR, o Sr. Paulo Cesar Oliveira Leite, trabalhador da saúde (maqueiro), na Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis, que descreveu os seguintes fatos ilícitos: no dia 31/10/2022 em horário de trabalho na Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis, estava com três colegas de trabalho no Pronto-Atendimento, na sala de medicação no final do expediente. No momento em que estavam conversando, se aproximou a enfermeira chefe, prima da superintende da instituição, que em dado momento disse em tom jocoso à duas colegas que “estariam de alta porque o médico as teria liberado, portanto poderiam ir para casa”. Em seguida dirigindo-se a Paulo Cesar Oliveira Leite, jovem negro, trabalhador da saúde, disse que quanto a ele: “voltasse para a senzala onde faltava o chicote e o tronco”. Sentindo-se inútil, rebaixado, muito humilhado, se perguntou em pensamento: “Por que comigo? Por que sou negro e pobre”? Já que as outras três colegas eram brancas. De pronto dirigiu-se a ouvidoria, narrou o acontecido e ouviu que a enfermeira chefe já havia praticado fato semelhante anteriormente, mas que a vítima não teria tido coragem de denunciar, que não havia feito registro, preferindo pedir demissão. No entanto, a vítima citada, ao saber da violência sofrida por Paulo Cesar Oliveira Leite, entrou em contato via telefone com o mesmo e prontificou-se a testemunhar. Após o ocorrido uma das colegas disse a Paulo Cesar Oliveira Leite que esquecesse o fato, que não levasse em consideração porque era apenas uma brincadeira de mau gosto. Saindo da ouvidoria Paulo Cesar Oliveira Leite dirigiu-se à 1a Delegacia de Polícia onde relatou os fatos e registrou Boletim de Ocorrência. Passado três meses e tendo a Santa Casa de Misericórdia e Maternidade aplicado supostamente apenas uma suspensão de cinco dias à agressora de, e não tendo sido feita qualquer retratação e reparação por parte da instituição e da agressora, procurou na data de 25/01/2023 o COMPIR para denunciar tamanha inércia e injustiça. Paulo Cesar Oliveira Leite contou ainda que em face do ocorrido precisou se submeter à terapia psicológica, e desde então vem tomando medicação para dormir. Ainda mais um fato, a enfermeira chefe proibiu verbalmente o Sr. Paulo Cesar Oliveira Leite de adentrar o Pronto-Atendimento da Santa Casa de Misericórdia, sua digital, antes lida na catraca, deixou de ser. No dia de ontem 27 de janeiro de 2023 a instituição afastou-o e voltou atrás em seguida. Ou seja, tudo indica que a punição seria dada a vítima e não a quem praticou o racismo e a injúria racial, crimes tipificados nas leis 7.716/89 e 14.532/23. O NEABI/UFR aguarda que a agressora que o papel da agressora na hierarquia da Santa Casa de Misericórdia e Maternidade não lhe confira privilégios, que haja retratação pública de parte da agressora e da instituição, que a agressora seja devidamente punida dentro dos rigores da lei. Os movimentos negros, desde a colonização do Brasil lutaram contra o maior holocausto da história, o sistema escravista antinegro e antíindígena, legaram exemplos de orgulho e admiração e ensinaram a importância de prosseguirmos na luta antirracista. O NEABI/UFR repudia a violência racista praticada contra o Sr. Paulo Cesar Oliveira Leite e contra qualquer pessoa e juntos afirmamos que RACISTAS NÃO PASSARÃO!
Rondonópolis, 28 de janeiro de 2023.
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas “Estamira Gomes de Sousa”